Eu vivo na casa pequena de pedra
No lugar onde o sol toca todo o dia
Tem paredes brancas esta casa
Soalho de madeira
Um “fogão-a-lenha” na cozinha
E uma máquina de costura no quarto dos desarrumos [que eu nunca utilizei]
No rés-do-chão desta casa de pedra
Há uma cave com o chão em “terra batida”
O quartinho com pertences esquecidos
E a máquina de lavar roupa
Já houve um baloiço
No sítio de onde vos escrevo
E, em tempos que não vivi,
Este baloiço estava pendurado no Castanheiro antigo
Que fica no fundo do quintal e que há muito não visito
Seis oliveiras estéreis fazem companhia à caixa do correio desta casa…
Ainda nos guarda um portão e um muro antigo
Onde alguém fez o favor de rabiscar
As suas preferências partidárias…
No coberto que agora abriga o carro do meu pai [e a nossa roupa]
Já houve fardos de palha que arderam
[e o coberto é o mesmo]
Recordo-me, agora, da Pereira que dá as boas-vindas a quem nos visita
[enclausurada num muro de cimento]
Lembro-me do Leão
[mas não me lembro de me ter mordido]
Lembro-me de ter encontrado o Bobby,
No meio do milho, morto, envenenado
Lembro-me que nunca mais adoptei nenhum cão…
Lembro-me de mim pequena
Nesta casa que é só minha
Lembro-me de chorar quando foi restaurada
E lembro-me muitas vezes das saudades que tinha
[E que tenho] desses tempos vivos na minha memória…