Hoje, à frente deste computador, ainda acordada, lembrei-me de voltar a olhar as fotografias esquecidas que tirei durante o meu estágio académico e adormeci para voltar a esse tempo que é, para mim, saudade: o Passado.
Acordo-me agora à frente deste computador.
Não consegui evitar o regresso ao Passado e como consequência destes meus devaneios temporais lá se me escapou, sem autorização, uma lágrima do olho. Não é tristeza, nem nostalgia. Arrisco a dizer que é uma saudade alegre. Recordo, sempre e apenas, os momentos em que fui feliz. Eu tenho um dom maravilhoso, o meu cérebro elimina as más recordações, mesmo muito más, em tempo recorde.
[Como sou Licenciada em Educação - Educação de Adultos fiz a minha aposta num estágio académico com a população sénior.]
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[texto dedicado aos seniores com quem trabalhei no meu estágio académico]
[porque preciso urgentemente de vos recordar para me sentir viva]
[texto dedicado aos seniores com quem trabalhei no meu estágio académico]
[porque preciso urgentemente de vos recordar para me sentir viva]
Lembro-me da primeira vez que vos vi.
Lembro-me de todas as primeiras abordagens.
Lembro-me das despedidas.
Lembro-me de, na primeira vez que abordei a D. Laurentina, não ter percebido patavina do que me disse e de ter contido à força uma gargalhada.
Lembro-me da primeira vez que a D. Ana me perguntou, muito séria, porque me estava a rir.
[era a primeira vez que ela falava comigo e não me pareceu nada simpática. Mudei rapidamente de opinião, claro!]
Lembro-me da "Vó" contar a todos o que tinha a acontecido à minha mãe.
Lembro-me de ver a "Anginho" chorar [e de quase chorar também].
Lembro-me dos amuos da D. Palmira, dos seus beijos gulosos, da mantinha roxa e do neto Joca.
Lembro-me da primeira vez que D. Arminda se virou aos berros contra mim [e lá tive de conter à força a as lágrimas].
Lembro-me de ver a Anginho, cujos 93 anos apenas lhe limitavam a audição, a pular para cima de um muro, como se fosse uma adolescente de 15 [ e de ter ficado pelo menos 10 minuto de boca aberta a olhar para ela].
Lembro-me da primeira vez que a D. Ana chamou muito alto por mim para que eu a ajudasse [eu julgava que ela nem o meu nome sabia e foi aí que tive a certeza que a tinha conquistado].
Lembro-me da primeira vez que entrei no contentor em que a D. Ana M. morava e mora.
Lembro-me do choro compulsivo da D. Belmira, com 85 anos, quando me fui embora e guardo com muito orgulho o email que me enviou meses depois.
Lembro-me do olhar agradecido e confuso do Sr. António.
Lembro-me da D. Trindade com o braço levantado, dedo apontado para o céu, a ralhar com o Fisioterapeuta: "Quem manda sou eu, eu é que sei e o meu marido não tem nada a ver com isso!".
Lembro-me da primeira vez que vos vi comer gelatina [ri-me como uma desgraçada! não consegui evitar!].
[...]
Lembro-me do muito que me ensinaram e lembro-me que vos dediquei o meu Relatório de Estágio.
Ao grupo de idosos/as com quem trabalhei e com quem aprendi a não ter medo de envelhecer.