4 de dezembro de 2008

Era uma vez um homem que era semita e tocava piano


A 5 de Dezembro de 1911, nascia em Sosnowiec, na Polónia, Wladyslaw Szpilman. Para muitos este nome poderá não dizer nada, mas outros facilmente se recordarão se eu disser que a vida dele foi relatada no filme “O pianista”, interpretado por Adrien Brody (um filme do, também polaco, Roman Polanski). O filme relata os dias terríveis que passou em Varsóvia, durante a ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Szpilman, que tocava na rádio de Varsóvia antes da ocupação, foi, juntamente com milhares de judeus, enviado para o gueto de Varsóvia para, posteriormente, ser enviado para o destino mais comum de seis milhões de judeus de toda a Europa…os campos de concentração. Szpilman refugiou-se em casa de amigos para escapar à morte certa e assim assistiu à revolta de Varsóvia levada a cabo pelo Exército Clandestino Polaco.
Como vingança à revolta de Varsóvia, Hitler ordenou a destruição total da cidade…
Quando a guerra terminou a Cidade era apenas um aglomerado de escombros.
Após a guerra Szpilman seguiu a sua carreira brilhante.
Morreu em Varsóvia a 6 de Julho de 2000.
Aqui fica a sugestão do filme “O pianista” para o fim de semana prolongado que se avizinha… Um filme que incomoda bastante, mas que é também uma lição de vida.

2 de dezembro de 2008

[descrição perfeita do] Dia de Natal [do poeta António Gedeão]

Durante uma pesquisa na net, encontrei este poema de António Gedeão sobre o Dia de Natal.

Partilho-o convosco, porque senti, novamente e surpreendemente, [esta época é propícia a pesos de consciência] a mente a despertar...

O poeta é isso mesmo, o despertador das mentes...


"Hoje é dia de era bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,

com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,

cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,

as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,

ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.

É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa

a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.

Cada menino

abre um olhinho

na noite incerta

para ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha,

salta da cama,

corre à cozinha

mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza

da matutina luz

aguarda-o a surpresa

do Menino Jesus.

Jesus

o doce Jesus,

o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho

do Pedrinho

uma metralhadora.

Que alegria

reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,

fuzilava tudo com devastadoras rajadas

e obrigava as criadas

a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!

E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá

fingiam

que caíam

crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,

de Sonhos e Venturas.

É dia de Natal.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas."


De António Gedeão [a quem agradeço o despertar da mente]